PROJETO DE TRABALHO
PARA
ALÉM DA SALA DE AULA:
Descobrindo
o mundo que há em mim e fora de mim.
*Projeto
de trabalho da disciplina: Estágio Supervisionado e Docência na
Educação Infantil I do curso de Pedagogia da Universidade Estadual
de Goiás, UnU Inhumas orientado pela professora Ms. Valdirene Alves
de Oliveira.
Acadêmicas:
Maria do Carmo Souza Vieira Novais
Marinele Lopes do Carmo
Milaine Alves Amaral
Nayara Cristina Oliveira Silva
INTRODUÇÃO
Durante o primeiro semestre do nosso curso em 2014, em nossas aulas
de estagio tivemos a oportunidade e o privilégio de conhecer,
estudar, debater e refletir sobre a obra de vários teóricos - como
Barbosa e Horn, Ostetto, Rosa e Lopes, Pimenta e Lima, Nono, Zanini e
Leite, Tristão, Alves, Farias, entre outros, que escreveram suas
perspectivas sobre a educação infantil, as práticas de estágio, a
formação profissional docente, tipos de planejamento e registro,
etc. - em um processo de construção, desconstrução e reconstrução
de conhecimentos contínuos acerca das teorias e práticas
pedagógicas da educação. Sendo estes momentos de grande
aprendizado, muito contribuíram para o enriquecimento de nossos
saberes e para a preparação e postura, em prol nossa formação
profissional.
Outro momento importante para nossa formação foi a Semana de
Integração realizada pela Universidade, pois o tema escolhido para
ela - Educação e linguagem: novos olhares, novas possibilidades de
ensino - nos ofereceu a oportunidade de participar de GTs, palestras,
minicursos e outros, que nos trouxeram novos conhecimentos e
informações pertinentes ao momento que estamos vivendo no estágio.
O GT em educação infantil, conduzido pelas professoras de estágio
Lindalva Pessoni e Valdirene A. Oliveira, foi de relevada importância
e muito contribuiu para a nossa formação, pois nos apresentou a
oportunidade de conhecer duas realidades diferentes de instituições
de educação infantil pública de Goiânia que trabalham com
projetos. Sendo assim, nos mostraram como realizam sua prática
docente com o envolvimento de todos os segmentos da instituição,
usando de criatividade ao aproveitar os espaços e apontando como
concebem a situação da direção, coordenação e docência
mediante o trabalho com os mesmos, tendo como ponto essencial para a
prática docente infantil a observação e atenção para a
motivação, a sensibilidade para a reflexão no processo, o
reencantamento para a parceria, a participação da produção de
conhecimentos para a retomada e cuidado teórico, para assim não
perder a intencionalidade pedagógica e oferecer uma educação de
qualidade às crianças das instituições.
Reconhecemos que durante o decorrer desse semestre outros currículos,
por nós estudados como: Propostas Curriculares e Metodológicas em
Educação Infantil, Processos do Ensino de Língua Portuguesa,
Política da Educação Básica, etc., contribuíram, em seus
conteúdos e temas abordados, significativamente, de forma
articulada, para acrescentar subsídios relevantes em nossa
preparação para o estágio, nos proporcionando maior embasamento
teórico, novas ideias e o amadurecimento necessário a nossa
formação prática.
A proposta apresentada a nossa turma de estagio, foi a de visitar e
observar a rotina de três instituições de educação infantil da
cidade de Inhumas, onde duas das instituições são CMEIs sendo
eles: *CMEI “A”, *CMEI “B” e a *Escola Municipal “C”.
Para iniciar o estágio foi proposta a formação de grupos de quatro
acadêmicos por turma para realizar a observação, sem dispensar o
apoio sutil às professoras das instituições, a partir de suas
necessidades e das próprias crianças, em três encontros
presenciais em cada unidade. Ficou estabelecido também que, após
cada dia de estágio, nos encontraríamos na Universidade para a
socialização das observações realizadas por cada grupo nas
instituições e para a aula teórica, orientação e apresentação
dos trabalhos realizados.
A primeira instituição observada foi a “A”, que possui um
espaço e estrutura física, excelentes. As crianças do berçário
nesta instituição nos receberam com alegria e prazer. Elas são
receptivas, comunicativas, ativas, curiosas e abertas à interação.
Demonstraram necessidades e interesses relacionados à brincadeira e
a um maior contato com os adultos e outras crianças e, também,
interesse em explorar o espaço externo ao ambiente do berçário. No
entanto, percebemos que mesmo com uma estrutura e espaço amplo e
propício a diversas e variadas possibilidades de construção do
conhecimento, a prática das docentes da instituição segue uma
rotina estabelecida centrada no cuidar, em detrimento do educar a
partir da percepção das necessidades e interesses demonstrados
pelas crianças, limitando o desenvolvimento integral delas.
A segunda instituição na qual estagiamos foi a “C”, que possui
estrutura física e espaço limitados. Nossa observação dessa vez
foi realizada em uma turma de segundo período com crianças na faixa
etária entre cinco e seis anos de idade. As crianças dessa turma
nos receberam de forma receptiva e com simplicidade. Elas são
espertas, interessadas, participativas, curiosas, comunicativas e
apreciam a música e gostam de argumentar com a professora. Nessa
turma, destacamos a presença de uma criança com necessidades
educativas especiais que nos surpreendeu ao demonstrar sua
necessidade e alegria por uma maior interação com a turma.
Percebemos em nossas observações que embora a professora incentive
a independência, a autonomia e a interação das crianças, existem
algumas limitações, como o fato do planejamento ser pautado em
datas comemorativas, o fato delas não poderem manusear os livros
literários presentes no Cantinho de Leitura da sala, o fato de que
em relação ao espaço, elas são impedidas de explorá-los, de
forma que alguns nem são utilizados para as brincadeiras e também o
despreparo em relação à inclusão de crianças com NEE.
A terceira instituição observada foi a “B”, que também possui
estrutura física e espaço limitados. Nossa observação foi
realizada no berçário que possui 19 crianças em uma faixa etária
que varia entre seis meses e um ano e meio de idade. Ao perceberem
nossa presença as crianças reagiram de forma diversa, algumas
interagiram bem conosco com sorrisos, gestos, balbucios, outras
estranharam nossa presença e começaram a chorar agitadas, apenas em
nosso terceiro dia de encontro elas nos receberam mais tranquilas,
algumas chegando a manifestar alegria ao nos reconhecer. Elas
possuem perfis mais variados, algumas são comunicativas, curiosas,
alegres, interativas, outras são mais introvertidas, sérias e
discretas. As educadoras nessa instituição são mais focadas em
ações voltadas para o cuidar, deixando a desejar o educar. Ao
observar a rotina da instituição, percebemos algumas necessidades
apresentadas pelas crianças, como: ambiente organizado de
forma mais pedagógica para o melhor aproveitamento e a exploração
do espaço que é limitado, ludicidade, interação criança-criança,
criança-educadora e criança com outras turmas, atenção em relação
aos cuidados, podendo estes serem mais individualizados e práticas
pedagógicas bem planejadas voltadas para o educar.
Em todas as instituições percebemos a prática docente estagnada
num contexto antigo e tradicional, que não percebe o potencial que
as crianças possuem para o aprendizado e formação integral como
sujeitos ativos, reflexivos e atuantes em seu meio. Observamos a
desvinculação do brincar, cuidar e educar. Em cada unidade foram
observadas necessidades diferentes, porém também necessidades
gritantes parecidas, como a melhor utilização e aproveitamento dos
espaços para uma prática pedagógica diferenciada.
Em uma visita campo à Creche UFG em Goiânia, observamos e
comprovamos que é possível praticar a educação diferenciada que
nos foi apresentada pelos teóricos em suas perspectivas. Nesta
instituição, o tripé brincar, cuidar, educar é realizado de fato,
lá tudo é pensado e organizado em função da criança e de forma
proporcional a ela, respeitando e promovendo o desenvolvimento
integral das mesmas, de forma autônoma, considerando a cultura, o
contexto e as especificidades da infância.
Diante de toda a cultura que mobiliza a escola, é
necessário que o estagiário possa entendê-la como um grupo social
interativo, no qual acontece o fenômeno educacional em suas
contradições e possibilidades. (FOURQUIN, 1993, p.10, apud LIMA,
2008, p.199)
Partindo da afirmação acima podemos dizer que os campos de estágio
se mostraram para nós como um grande desafio, com suas contradições
e inúmeras possibilidades, para colocarmos em prática a construção
de nossa identidade profissional, através da observação, reflexão,
análise partilhada, compreensão e concretização de nosso projeto,
de como é e pode ser realizada a prática educativa.
O presente projeto de trabalho intitulado, “Para além da sala de
aula: descobrindo o mundo que há em mim e fora de mim”, onde temos
por tema a ideia de ir além da sala de aula e através do qual
delimitamos para um espaço de educar e cuidar na perspectiva de
letramento na Educação Infantil trata-se de um processo que caminha
do plano individual interno – relações intrapessoais, para o
plano social – relações interpessoais, a fim de possibilitar a
troca e a internalização da construção de aprendizagens
significativas para as crianças, a partir da interação e inclusão,
aproveitando ao máximo os espaços oferecidos pelas instituições.
PROBLEMÁTICA
Como colaborar para que as
crianças da educação infantil sejam letradas, num espaço e
ambiente propicio, respeitando suas individualidades, unindo o
cuidar, brincar e educar de forma que elas se desenvolvam de forma
lúdica, interativa e prazerosa, sem a perspectiva de alfabetização
antes do momento certo?
OBJETIVO GERAL DO PROJETO:
O projeto “Para além da sala de aula: descobrindo o mundo que há
em mim e fora de mim,” tem por objetivo geral: ampliar o
desenvolvimento integral das crianças, através de um ambiente
desafiador, que permita a exploração livre, favoreça a curiosidade
e possibilite muitas descobertas, em todas as instituições campo de
estágio.
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS DO PROJETO:
Incentivar o letramento das
crianças, a partir de situações simples e cotidianas, como as
brincadeiras e o contato com livros de literatura infantil, em um
ambiente que propicie a experimentação e a interpretação.
Explorar ao máximo os espaços
internos e externos da sala de aula para desenvolver as brincadeiras
e a interação entre as crianças de diferentes idades incluindo as
com necessidades especiais e, entre adulto e criança, valorizando
os espaços, a liberdade e conhecimentos prévios para inovar a
aprendizagem, estimular a construção da identidade e autonomia,
criar vínculos e estabelecer condições para o convívio social.
Considerar a criança como
sujeito histórico-cultural, capaz de assimilar saberes, agindo e
reagindo no meio social em que vive, num processo de construção,
desconstrução e reconstrução de si mesma.
JUSTIFICATIVA
Este projeto visa atender ao público da educação infantil a partir
da perspectiva de letramento tanto para o berçário, quanto a
pré-escola, respeitando a individualidade de cada criança e
aproveitando ao máximo os espaços de cada instituição campo de
estágio. Segundo Barbosa e Horn, (2008, p.31):
Um projeto é uma abertura para possibilidades amplas de
encaminhamento e resolução, envolvendo uma vasta gama de variáveis
de percursos imprevisíveis, imaginativos, criativos, ativos e
inteligentes, acompanhados de uma grande flexibilidade de
organização. Os projetos permitem criar, sob forma de autoria
singular ou de grupo, um modo próprio para abordar ou construir uma
questão e respondê-la.
Assim, com esse projeto acreditamos na possibilidade de inovarmos e
apresentarmos a esse público, uma visão além do que lhes é
oferecido, trazendo às crianças momentos nos quais elas possam
perceber suas particularidades e ao mesmo tempo a sua relação com
o outro através da interação, além de promover a construção da
identidade e autonomia, desenvolvendo a flexibilidade, o diálogo, a
interpretação, organização, capacidade de negociação e
decisão, autoconfiança, criatividade, coordenação, cooperação,
etc.
Através dos projetos de trabalho, pretende-se fazer as
crianças pensarem em temas importantes do seu ambiente, refletirem
sobre a atualidade e considerarem a vida fora da escola. Eles são
elaborados e executados para as crianças aprenderem a estudar, a
pesquisar, a procurar informações, a exercer a crítica, a duvidar,
a argumentar, a opinar, a pensar, a gerir as aprendizagens, a
refletir coletivamente e, o mais importante, são elaborados e
executados com as crianças e não para as crianças. (BARBOSA E
HORN, 2008, p.34)
Durante as observações nas instituições campo de estágio,
notamos que o espaço externo não é utilizado e quando utilizado
não é para o desenvolvimento de uma atividade planejada que vise o
desenvolvimento das crianças através de uma prática pedagógica
diferenciada, para além do tradicionalismo muita das vezes arraigado
nas instituições de educação infantil.
Desse modo é de extrema relevância apontarmos aqui que
não é somente o espaço limitado das salas de aula ou das
atividades propriamente ditas que devemos considerar e ou tão
somente os modos de organizá-los. Todos os espaços das instituições
de educação infantil são “educadores” e promovem aprendizagens
(hall de entrada, biblioteca, banheiros, cozinha, corredores, pátios
e etc.) na medida em que, devido as suas peculiaridades, promovem o
desenvolvimento das múltiplas linguagens infantis. (BARBOSA E HORN,
2008, p.50-51)
Com isso pautamos nossas discussões a partir de um propósito de ir
para além dos espaços de sala de aula, utilizando a literatura
infantil, a brincadeira e a interação criança-criança e
criança-adulto. Observamos no primeiro semestre que as crianças
apresentaram necessidades primordiais da Educação Infantil, ou
seja, brincar, explorar espaços internos e externos à sala de aula,
tendo em vista o seu desenvolvimento.
O espaço tem intenção. Ele orienta a ação. Ao
entrarmos em um espaço bagunçado, ele nos convida de determinada
maneira. Um lugar cuidado, preparado, nos convida de outro jeito. É
preciso que as crianças desfrutem dos espaços da escola sem muitas
restrições, de maneira respeitosa, como brincantes que são.
(BARBIERE, 2012, p.49).
Partindo dessa afirmação compreendemos que o espaço deve possuir
um ambiente adequado para que a realização das atividades com as
crianças interferiram positivamente nas ações delas diante das
propostas realizadas naquele espaço.
Nos anos iniciais da infância a criança tem a necessidade de pegar
o livro, explorar suas imagens, descobrir o universo que aquele livro
pode lhe oferecer, sem restrições, pois ela precisa se sentir à
vontade com o livro e não oprimida pelo medo de danificá-lo. Neste
sentido, Soares (apud MARICATO, 2005, p.18) afirma que é preciso
desmanchar essa ideia do livro como objeto sagrado; é sim sagrado,
mas para estar nas mãos das pessoas, ser manipulado pelas crianças.
O mesmo acontece em relação à brincadeira. As crianças têm o
direito de brincar e a partir do resgate de brincadeiras pode-se
propor uma maior interação entre o brincar, cuidar e educar.
É importante que o educador observe do que as crianças
brincam como estas brincadeiras se desenvolvem o que mais gostam de
fazer, em que espaço preferem ficar, o que lhes chama mais atenção,
em que momentos estão mais tranquilos ou mais agitados. Este
conhecimento é fundamental para que a estruturação espaço-
temporal tenha significado. (BARBOSA e HORN, 2001, p.67)
O educador é uma peça importante nas realizações de atividades e
brincadeiras com as crianças, cabe a ele ser companheiro delas na
caminhada de descobertas, prepará-las para explorar o mundo no qual
estão inseridas, possibilitar diversas experiências envolvendo tudo
ao seu redor, favorecer a ampliação de suas competências e
estimular o processo de maturação em todos os aspectos. Vemos aí
uma oportunidade para que haja o letramento na Educação Infantil de
forma a contribuir para aquisição da autonomia e identidade da
criança em interação com o outro. Segundo Coelho, (2010, p.79):
O letramento começa muito antes de a criança pegar um
lápis ou conhecer as letras e as formas de escrever. A partir de
suas vivências cotidianas com a família, com a sociedade ou com
seus pares, os pequenos participam de tal prática de maneira
intensa, através de situações diversificadas e no contato com
materiais escritos em lugares diversos e de variadas formas.
Para uma criança ser letrada necessariamente não precisa estar
sendo alfabetizada, a todo o momento estamos envoltos em uma
sociedade em que a leitura e a escrita são constantemente
utilizadas, portanto desde muito cedo ela entra em contato com esse
mundo. Segundo Paulo Freire 2005 p.11, “a leitura do mundo precede
a leitura da palavra”. Assim podemos englobar o letramento em ambas
as situações tanto para o berçário quanto para a pré-escola.
Hall Nigel (2006, p.136), no livro “A excelência do brincar”,
afirma: o brincar buscando em experiências da vida real oferece
oportunidades valiosas para as crianças experimentarem e utilizarem
explicitamente o letramento de muitas maneiras diferentes e válidas.
Dessa forma é preciso que os professores promovam situações de
brincadeiras espontâneas em ambientes lúdicos e divertidos com
materiais impressos diversificados como revistas, livros de
historias, panfletos, cartazes, embalagens, gibis, jornais, etc.,
contextualizando-os com intencionalidade de maneira natural e lúdica,
proporcionando à criança o contato e a vivência do letramento, de
forma real e significativa.
No berçário e na pré-escola, o espaço a ser trabalhado deve ser
significativo, proporcionar momentos de interações, em que as
crianças desenvolvam as suas capacidades, mas que também explorem o
espaço que lhes é oferecido, considerando as necessidades de cada
criança. Segundo Agostinho (apud MARTINS FILHO, 2005, p.65):
Coletivamente temos de fazer o esforço de pensar formas
genuínas de as crianças participarem, interferirem, influenciarem
no espaço da instituição de educação infantil, para que possamos
oportunizar lhes efetiva participação, contando com suas
contribuições para enriquecermos os espaços destinados à educação
da infância com imaginação, inventividade e ludicidade próprias
das mesmas. A apropriação do espaço pelas crianças supõe que
estas possam colocar suas marcas, alterá-lo, transformá-lo,
imprimindo seus registros nas paredes, portas, janelas, tetos, chão,
por toda a instituição, personalizando-a.
É preciso que o espaço da instituição seja melhor aproveitado,
assim o professor deve planejar as atividades a serem trabalhadas
propiciando momentos de estímulo, brincadeiras e enriquecimento às
crianças. Para que estas desenvolvam as capacidades afetivas, a
sensibilidade, a autoestima, o raciocínio, o pensamento e a
linguagem.
A partir de estudos houve a percepção da importância do brincar
junto a Educação Infantil, unido com o cuidar e educar fundando o
tripé da mesma, partindo de situações de aprendizagem onde o
brincar, cuidar e educar estejam envolvidos, a utilização dos
espaços se dará de maneira divertida e muito prazerosa.
Segundo Mendes, 2001, p. 11, “... o brincar, para a criança, é
uma forma básica de expressão, parte integrante do fazer e do
viver. Por meio da brincadeira, ela estabelece suas primeiras
relações com o mundo, com a realidade”. Logo o brincar se faz
fundamental na Educação Infantil, sendo assim uma forma de
interagir a realidade e a imaginação, levando-as ao mágico mundo
do aprendizado, em que tudo é uma brincadeira muito rica.
Neste ponto observamos falhas em ambas as instituições, não há
tempo para o brincar. O foco é o cuidar e em uma das instituições
esse aspecto é o norteador das atividades desenvolvidas. Em ambas
não há uma correlação, nas atividades que foram observadas por
nós, que gerou estudos como sobre a junção da teoria e prática,
cuidar e educar, espaço e tempo. Percebemos que não é menos
importante o brincar, tanto para as crianças do berçário quanto
para as crianças do segundo período na pré-escola.
Diante disso e preciso tratar o brincar de forma que essas
brincadeiras estejam envolvidas com o desenvolvimento da identidade e
autonomia da criança.
A escola é lugar privilegiado para que as crianças
aprendam a construir sua identidade de gênero (como menino ou
menina), ou como membro de grupos sociais variados (religiosos,
étnico, raciais, etc.) e também uma autoestima positiva que integre
suas experiências. Algumas atividades podem ampliar e facilitar o
processo de construção das identidades infantis. (OLIVEIRA, (org.)
2012, p.173)
O
educador voltado para a Educação Infantil precisa propor ações
que incentive a aquisição da identidade partindo de atitudes
relativamente simples não se esquecendo que cabe ao professor criar
um repertorio criativo com brincadeiras e atividades significativas
que venham a facilitar a construção da identidade das crianças e
ao mesmo tempo incentivando a sua autonomia.
O espaço e a linguagem devem ser trabalhados em conjunto, mediante o
planejamento, o educador tem o papel de ser um grande mediador do
conhecimento, Rosa e Lopes (apud S. THIAGO 2000, p.60) dizem:
(...) mediador entre o conhecimento e o desconhecido,
não mais um centralizador, mas aquele que, coordenando situações e
atividades, ouve as múltiplas linguagens que expressam pensamentos,
sentimentos, conhecimentos. Alguém que brinca junto sugere
brincadeiras, dá significado as ações e experimentações das
crianças. E observar, ouvir, perceber as expressões e linguagens
que as crianças revelam não é tarefa fácil, não!
Assim, para esse projeto, pensamos como deve ser nossa postura de
mediadoras na construção de conhecimentos diante das múltiplas
linguagens que as crianças irão expressar no desenvolvimento das
atividades propostas. É preciso que sejamos capazes de entender e
falar várias linguagens como as crianças, sabendo interagir,
intervir e trabalhar com os desafios que surgirão decorrente das
atividades realizadas.
A inclusão de criança com NEE na Educação Infantil é uma prática
nova. Neste contexto, podemos dizer que ela é possível, porém é
um caminho repleto de desafios a se percorrer, assim sendo, eles
devem ser enfrentados com conhecimento, determinação e paciência,
através de formação contínua do docente, de forma que possibilite
uma prática adequada que venha ao encontro das necessidades reais da
criança.
Os defensores da Inclusão acreditam que em se tratando
de crianças com deficiência as instituições de educação
infantil são espaços privilegiados onde a convivência com adultos
e outras crianças de varias origens, costumes, etnias, religiões,
possibilitará o contato desde cedo com manifestações diferentes
daquelas que a criança vivencia em sua família ou num ambiente
segregativo, permitindo-lhe, assim as primeiras percepções da
diversidade humana (ARNAIS, 2003, p.9-10).
Nesse sentido, é importante que a Educação Inclusiva de fato
contribua para a aceitação e o respeito às diferenças, à
diversidade e que as atividades planejadas incluam as crianças de
forma que elas possam se sentir inseridas no contexto escolar e
participantes ativas desse meio, capazes de realizar, mesmo com
alguma limitação, o que lhes for proposto em suas aprendizagens.
Dessa forma:
A escola que trabalha na perspectiva inclusiva é a que
acolhe a todos sem mecanismos de seleção ou discriminação,
garantindo o acesso e a permanência do educando por meio da educação
de qualidade, sendo essa a função de todas as escolas. Por outro
lado, inclusão não é somente sinônimo de acesso e permanência na
escola. Incluir significa possibilitar as aprendizagens de todos,
considerando suas trajetórias, vivências, dificuldades e avanços.
Cabe ao coletivo de profissionais da escola, principalmente, os
professores, estarem qualificados por meio de formações contínuas,
criarem situações articuladas favoráveis à inclusão de todos e
receberem orientações específicas para a prática pedagógica.
(ALMEIDA, TOFOLI, OLIVEIRA, 2014, p.7)
A inclusão social começa com a atitude do professor, que deve
considerar a criança como sua responsabilidade, para assim poder
interagir, se comunicar com ela e conhecer a sua condição, seu
histórico de vida, para lhe oferecer um espaço rico em
possibilidades para o desenvolvimento de suas potencialidades, mas
também depende de todo coletivo escolar, a partir das qualificações
e práticas relacionadas à inclusão que priorizem o que a criança
pode desenvolver durante o seu processo de construção de saberes e
valores.
Acreditamos na criança como sujeito de direitos e que a educação
infantil serve para dar oportunidades a ela, de ampliar o seu mundo
de maneira simples, partindo de sua curiosidade, questionamento,
interesses e necessidades reais, ao compartilhar situações da vida
diária com ela. Assim neste processo de construção de aprendizado
entre as crianças e nós, podemos compreender que é possível
utilizar pequenos espaços de maneira criativa e com fundamento
pedagógico interagindo tanto o tempo e o espaço, o
brincar-cuidar-educar, de modo em que possamos incluir todas as
crianças com suas particularidades aonde a aquisição da identidade
e autonomia seja realizada de modo interativo e satisfatório para
todos os envolvidos.
METODOLOGIA
Sendo o planejamento por datas comemorativas o que mais vimos nas
instituições campo de estágio, realizaremos nosso projeto,
buscando planejar as atividades de uma forma diferente, em que não
fique tão forte a presença deles, que segundo Ostetto, (2002,
p.182): “Massifica e empobrece o conhecimento, além de menosprezar
a capacidade da criança de ir além daquele conhecimento fragmentado
e infantilizado”.
Assim iremos trabalhar contextualizando nossas atividades, sem perder
o foco do tripé da Educação Infantil “cuidar-brincar-educar”,
e para alcançar os objetivos almejados lançaremos mão do
letramento a partir de situações rotineiras, porém planejadas
pedagogicamente, explorando os espaços internos e externos
existentes nas instituições, de forma interativa e inclusiva,
tornando-os mais atrativos e enriquecedores principalmente para as
crianças, e também para os docentes e toda a comunidade escolar.
(...) as crianças bem pequenas necessitam de um modo
muito específico de organização do trabalho pedagógico e do
ambiente físico. [...] Nessa faixa etária, é fundamental
considerar que as coisas importantes da vida a serem descobertas e
conhecidas são a procura do olhar, o ser correspondido, o sorrir, a
conversa (seja ela qualquer tipo de relação vocal), o tocar(contato
motor), o contato físico, a retenção de um objeto(dar, oferecer),
o imitar, o esconder, os jogos de linguagem, os jogos de manipulação,
as músicas, as saídas para o espaço externo, as festas, a vida em
grupo. (BARBOSA E HORN, 2008, p.72)
Portanto nas instituições “A” e “B” com as crianças
menores, buscaremos trabalhar em espaços internos e externos por
considerarmos que eles são provocadores de aprendizagens; o
movimento e as diferentes linguagens, envolvendo a música que
favorecerá a construção da linguagem expressiva e simbólica; a
contação de histórias que possibilitarão uso da imaginação,
criatividade, atenção, memória; o desenvolvimento da identidade e
da autonomia considerando as crianças como seres com vontade
própria, capazes e competentes para construir conhecimentos; a
criação de vínculos através de brincadeiras em que aprenderão a
respeitar o outro e aprender as regras de convivência em sociedade,
imprimindo, assim, em nossa ação pedagógica a possibilidade de
superação da dicotomia entre o cuidar e educar.
Segundo Barbosa e Horn, (2008, p. 80):
A segunda infância, (...), é caracterizada por ser um
momento importante na formação da criança. Nesse período, elas
têm aumentadas as suas motivações, seus sentimentos e seus desejos
de conhecer o mundo, de aprender.
Na instituição “C”, pré-escola, com as crianças maiores
desenvolveremos aulas com a utilização, também, do espaço interno
e externo como um educador auxiliar aliado; envolvendo o lúdico na
literatura, a partir da qual, as crianças poderão se interessar em
contar suas próprias histórias e vivências, aprendendo assim a
organizar o pensamento e coordenar as ideias; as múltiplas
linguagens em rodas de conversas que irá favorecer o diálogo, a
autoridade, a formação de grupos, a partilha e a afetividade;
recreios dirigidos com brincadeiras que promovam a interação entre
as turmas, incluindo em todas essas atividades as crianças com
necessidades educativas especiais, desenvolvendo-as de forma aberta,
diversificada e flexível. Assim a inclusão acontecerá naturalmente
e será benéfica para todas as crianças e também adultos, que
passarão a reconhecer e respeitar as diferenças sem discriminação
e preconceito.
Essa visão de organização do trabalho pedagógico
considera as crianças como co-autoras do seu processo de
aprendizagem, tirando- as do lugar de passividade que a escola as têm
colocado para um papel ativo e participativo. (BARBOSA E HORN, 2008,
p. 84)
Podemos então dizer, que a proposta de nosso projeto, é ir ao
encontro do processo de aprendizagem das crianças para oportunizar
alguns elementos em prol da ampliação dos conhecimentos e das
possibilidades para a formação de sujeitos ativos, participantes e
engajados na sociedade da qual fazem parte.
AVALIAÇÃO
Sabemos que o conhecimento de uma criança é construído em
movimentos de idas e vindas, assim o trabalho com projetos
possibilita observar, acompanhar e compreender o dinamismo no
desenvolvimento infantil e avaliar a criança em seu processo de
aprendizagem durante todo o percurso realizado, mediante o registro
diverso de todas as atividades propostas.
Os procedimentos que utilizamos para avaliar nossos
alunos em sala de aula revelam nossas concepções sobre a
aprendizagem, a infância e a educação, expondo, assim, os modelos
teóricos que nos apoiam. (BARBOSA e HORN, 2008, p.97)
Assim, vamos propor para o projeto “Para além da sala de aula:
descobrindo o que há em mim e fora de mim”, que o mesmo seja
avaliado de formas diferentes dependendo da instituição campo de
estágio.
CMEIs: ao final da execução
do projeto, vamos propor que as professoras avaliem se foi
proveitoso para o dia-a-dia do grupo berçário;
Escola: o projeto terá sua
avaliação, a partir de uma roda de conversa com as crianças do
segundo período;
Além destas formas de
avaliação o grupo fará uma auto-avaliação, observando se
conseguimos desenvolver nossos objetivos, se sentimos que foi
proveitoso ou não, o projeto, para as crianças. Para tal
utilizaremos o registro de cada encontro através de fotografias,
vídeos e arquivos biográficos, que posteriormente serão
utilizados para apresentação da mostra de curtas e a criação de
um blog sobre o projeto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estágio se constitui como um campo de conhecimento, iniciando com
as teorias e depois partindo para a prática, preparando o futuro
docente para um trabalho coletivo, uma vez que o ensino é uma tarefa
de ações coletivas de toda comunidade escolar situada em contextos
sociais, históricos e culturais.
As teorias por nós estudadas nos proporcionaram o embasamento
necessário para a realização de nossas ações no estágio e muito
contribuíram para o enriquecimento de nossos saberes, garantindo
nosso aprimoramento no decorrer de nossa formação e competência
para a nossa prática.
Tudo que vivenciamos neste semestre como as visitas nos campos de
estágio, os GTs, palestras e minicursos da Semana de Integração
vieram, num momento propício, ao encontro dos currículos por nós
estudados para afirmar nosso aprendizado.
Durante a realização da primeira etapa de nosso estágio,
percebemos nas instituições a prática docente estagnada num
contexto antigo e tradicional, que não percebe o potencial que as
crianças possuem para o aprendizado e formação integral como
sujeitos ativos, reflexivos e atuantes em seu meio. Observamos a
desvinculação do brincar, cuidar e educar. Em cada unidade foram
observadas necessidades diferentes, porém também necessidades
parecidas, como a melhor utilização e aproveitamento dos espaços
e uma maior integração para uma prática pedagógica diferenciada.
Mediante a percepção das necessidades encontradas nas instituições
de estágio, tivemos como intuito a realização deste projeto o qual
pensamos que muito acrescentará de positivo na construção de
saberes das crianças e no incentivo a utilização de práticas que
valorizem o tripé brincar, cuidar, educar.
A metodologia de trabalho por projetos tem por base a abordagem e
construção de uma questão, para respondê-la com amplas
possibilidades de resolução. Assim, podemos dizer que o caminho que
percorremos até o momento para a elaboração de nosso projeto não
foi tarefa fácil não, pois exigiu de nós um olhar sutil, perspicaz
e atento em nossas observações, um olhar capaz de enxergar os
interesses e as necessidades apresentadas pelas crianças e
correlacioná-los às perspectivas para a educação infantil,
apresentadas pelos teóricos estudados, de forma que essas pudessem
nos oferecer o embasamento necessário durante a escolha do tema e
formulação da problemática para o mesmo. Encontramos algumas
dificuldades nesse percurso com relação à divergência na
organização das ideias e escrita, tanto do projeto como da pasta de
estágio, e também em relação a como propor num mesmo projeto, uma
abordagem adequada que atenda as necessidades dos dois níveis
diferentes de escolaridade com os quais iremos trabalhar. Com o
tempo, paciência, diálogo, leitura, orientações e estudo
conseguimos superar as barreiras encontradas e dar continuidade ao
processo de construção da nossa proposta.
Sabemos que teremos um grande trabalho a realizar no próximo
semestre, como a elaboração e escrita dos anexos com as atividades
que pretendemos colocar em prática; a concretização, o registro do
desenvolvimento e a avaliação do projeto; a elaboração e
apresentação da mostra de curtas sobre o estágio, a criação do
blog, entre outros. Mediante essa perspectiva e considerando que
somos estagiários da vida em constante aprendizado, esperamos que o
projeto seja bem acolhido pelas instituições e nos possibilite o
conhecimento e a reflexão das ações docentes nas mesmas, de modo a
compreendê-las em seus impasses e dificuldades, para então,
provocar a abertura necessária à transformação e inovação de
suas práticas. Esperamos, também, uma participação ativa das
crianças e com nossas ações criar um ambiente propício,
facilitador do diálogo, das brincadeiras, da interação e da
inclusão, que possa oferecer a elas uma multiplicidade de desafios
e vivências de encantamento, dinamicidade e estímulo para que
possam compreender o mundo e dele participar criando novas culturas.
Concluímos, assim, que a realização deste projeto será um momento
propício para a reflexão sobre nossa formação, como esta pode
influenciar a nossa prática pedagógica como futuros docentes e
também aprofundar nossos conhecimentos teóricos e práticos sobre a
educação, além de contribuir para a busca e realização de uma
educação infantil dinâmica e de qualidade.
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